.:: A Integração do Surdo na Escola

Autora: Fga. Maria Angélica Fischer
CRFª 6869/SC



Nem todos são iguais. As diferenças existem e precisam ser respeitadas. Quando a causa é a surdez, a comunicação fica prejudicada, já que a audição e a fala são os canais por onde a sociedade passa as suas informações. E, a realidade mostra que a diferença causada pela surdez acaba levando a marginalização social.

Para a pedagoga Márcia Leite (1969:10), a sociedade é muito discriminadora, o que ocorre em muitos casos, é a criança ser discriminada pelos colegas, pela escola ou pela própria família, que não consegue aceitar a deficiência. Qualquer coisa que se desvie do padrão idealizado de normalidade da nossa sociedade, é discriminada. Então, esse conjunto de fatores pode resultar numa dificuldade de socialização, prejudicando o desenvolvimento da criança.

A psicóloga, Maria Cecília Rafael de Góes, (1996:20), refere em seu livro "Linguagem", surdez e educação, o relato de uma professora formada em Educação Especial, na área de deficiência Auditiva sobre o problema de atuação de alunos surdos em classes regulares. Referiu-se a uma diversidade de temas, tais como: a limitação de sua própria formação profissional, os obstáculos para a integração do surdo na sociedade, a falta de colaboração da família no processo escolar e as condições institucionais para o trabalho pedagógico (recursos materiais insuficientes, instabilidade na atribuição de classes, tempo reduzido de aulas, etc.).

Entende-se como integração, a possibilidade de que as pessoas com necessidades especiais devido a deficiência ou problemas em seu desenvolvimento viva e conviva com as demais pessoas de sua comunidade. Conforme Correia (1997:23), profissional ligado a educação, este viver e conviver em sua própria comunidade é um direito e uma questão de justiça. É justo que o portador receba uma educação adequada às suas necessidades específicas, uma vez que a educação é um direito constitucional de todos os cidadãos. O princípio de integração não nega o atendimento às necessidades educativas que o educando possa apresentar.

Para tornar uma política de integração é fundamental que se alarguem as oportunidades educacionais, enfatiza p professor em educação especial Vítor da Fonseca (1995:68): "...os programas e os currículos terão de ser necessariamente diferentes, adaptados às necessidades educacionais específicas das crianças deficientes. A filosofia e o fundamento científico terão de presidir a elaboração do desenho curricular, deverão respeitar os estilos e os biorritmos preferenciais de cada criança, isto é, deverão adotar uma filosofia centrada na semelhança diferenciada e não na semelhança indiferenciada que tem caracterizado os programas escolares vigentes."

A questão está no fato de que integrar não é só "alocar" (Góes, 1996:48) a criança na sala de ensino regular. A escola terá de adaptar-se a todas as crianças, ou melhor, a variedade humana. Como Instituição Social, não poderá reagir no sentido inverso, rejeitando ou segregando "aqueles que não aprendem como os outros". Não se pode continuar a defender que tem de ser a criança a adaptar-se às exigências escolares, mas sim, o contrário.

Na realidade, o professor é preparado para atuar como uma criança normal, "a ouvinte", pois todo o ambiente já está preparado para receber as crianças que ouvem e falam, todo o material terá sido escolhido para este tipo de população, que é a maioria.

No entanto, é urgente preparar todos os professores, sem exceção, para aceitarem as diferenças individuais de cada criança. Segundo Fonseca, deve-se prepará-los para abandonar os tradicionais "medos", equipando-os com recursos educacionais inovadores e com modelos pedagógicos experimentais. Seria imprescindível também o trabalho de uma equipe multidisciplinar como: psicólogo, fonoaudiólogo e psicopedagogo.

Para Harrison Godi e Moura (1997:362), a questão que nos atinge é: que tipo de concepção de surdez e de surdo estão permeando a opção pelo processo educacional destas crianças? Por que, que no Brasil, ocorrem tão poucas pesquisas nesta área? Qual deveria ser o papel da escola nestas questões levantadas?

Correia (1997:09) refere que a escola deverá dar condições para estas crianças. Surgindo assim, uma "nova realidade", em que a criança com necessidades educativas especiais tem o direito de, sempre que possível, ser educada na classe regular. É a responsabilização da escola regular pela educação de todos os alunos, independente dos problemas de aprendizagem que cada um deles possa apresentar. Mas, esta responsabilidade exige de escola e do sistema, modificações no processo ensino/aprendizagem no sentido de se encontrar respostas para um dos direitos fundamentais da toda criança – o direito a uma educação igual e de qualidade que observe as suas necessidades. É ainda freqüente, hoje em dia, encontrarmos alunos com necessidades educativas especiais sem qualquer tipo de apoio.

Correia (1997:12) afirma que as mudanças necessárias exigirão tempo, pois, quando algum fato novo surge, muda o equilíbrio conquistado, principalmente no sistema educacional. Certamente virão as dificuldades e resistências. Porém, não podemos deixar de analisar e expor estas questões para uma profunda reflexão. Também não devemos deixar de lutar pelas idéias que achamos certas, apenas por ser difícil de serem conquistadas. Afinal, a vida vale a pena enquanto há ideais a serem conquistados.

"Devemos ser pacientes e esperar por métodos novos e por ocasiões para a pesquisa. Devemos estar prontos, também, para abandonar um caminho que tenhamos seguido durante certo tempo, se ele nos parecer estar caminhando para um fio incerto."

Sigmund Freud (1948)
Beyond The Pleasure Principlie
(Além do Princípio do Prazer)
(Extraído do livro "Audição em Crianças)